segunda-feira, 10 de maio de 2010

O (contra)conto de fadas real

Esta última semana me pus a pensar sobre um novo post mas nada me ocorria. Se eu tivesse talento suficiente para tal, diria se tratar do tão famoso “bloqueio de escritor”, a instigante tela em branco que lhe convida a pintá-la quando você não possui nenhum estoque de tinta. Bem, acredito que já me fiz entender.

Passeando aleatoriamente por um famoso buscador de sites, me deparei com uma página na qual os internautas enviam questões e solicitam a ajuda de outros companheiros online. Nada confiável são as respostas, pude perceber, mas, para quem está desesperado o bastante para recorrer a esse procedimento, talvez possam trazer alguma luz (ou, propiciar uma péssima influência).

Todo tipo de assunto pode ser discutido por lá e, como o meu interesse são os referentes à beleza e a procura por ela, me refestelei! Me senti o porquinho chafurdando na lama, o pintinho brincando no lixo. Ok, esgotei a cota diária de metáforas e analogias. Enfim, finalmente encontrei um tema!

Dentre as milhões de dúvidas referentes à beleza, à boa forma e à aparência em geral, me assustou ver o tanto de "pseudomédicos" existentes. Todo mundo sabe indicar algum medicamento para o seu problema e, muitas vezes, ainda oferecem-no para que você o compre (incluindo os tarjas preta). É impressionantemente fácil obter qualquer medicamento de venda proibida sem receita médica. Trilhando por aí, investiguei essas drogas mais a fundo.

Os efeitos colaterais mas comuns são fascinantes (sim, sim, estou sendo irônica): tonteira, desorientação, fraqueza, insônia, irritabilidade, alteração do humor e da libido e cefaléia são os mais citados.

A partir disso, imaginei um conto de fadas moderno e distorcido. Nossa princesa é a Insensata, uma mocinha descontente com os quilinhos a mais que julga ter. Insensata, cansada de fracassar em todos os tipos de dietas mirabolantes e exaustivas, resolve apostar nesses medicamentos. Ah, por quê não?! Se deu certo com a sua amiga há de dar certo com ela também e, no mais, só vai utilizar por pouquinho tempo. Tudo é válido para se estar magrinha!

Insensata encomenda o remédio e o recebe. Cheia de ansiedade e expectativa, começa a usá-lo. Nossa, é sensacional! Insensata passa o dia sem comer e, mesmo assim, sente-se sempre satisfeita. No primeiro dia de auto-medicação, não consegue dormir à noite. "Provavelmente foi toda a ansiedade que me causou isso", pensa ela. No dia seguinte, sem ter dormido, mas, firme em seu intento, Insensata se levanta da cama. "Ooops! Que bom está parede estava aqui perto! Acho que me levantei rápido demais!". Ainda sem fome e com o corpo abatido como se estivesse doente, insensata toma um comprimido e um copo de leite e vai para o trabalho.

Durante a tarde, encontra muita dificuldade em se concentrar em qualquer tarefa, por mais simples que seja. Nunca achou tão difícil digitar um e-mail, até porque, sua vista embaralhava muito e a claridade do monitor penetrava seus olhos como adagas afiadas. Logo, logo a cabeça começa a doer de forma lancinante. Ah, como ela desejava poder descansar um pouco!

Sai do serviço e, sentindo-se em meio a um tremor de terras, consegue distinguir o seu dentre os ônibus que passam e segue para casa. Chegando lá, é recebida com os latidos do cachorro e a conversa da mãe. Insensata sente-se extremamente irritada com ambos; por quê não podem respeitar o seu cansaço?! Muito brava, entra no quarto batendo a porta. Ela realmente precisa dormir. Tenta todas as táticas possíveis para atrair o sono e, sem sucesso, passa mais uma noite em claro.

Na manhã segunte, está acabada. O cansaço acumulado e a fraqueza somam-se às profundas olheiras. Ao se olhar no espelho, fica furiosa e sente que poderia quebrar todos os objetos ao seu alcance. Não se lembra de ter se sentido tão brava antes! Insensata incorre em um círculo vicioso: come cada vez menos e não dorme quase nada, por isso, sente-se cada vez mais cansada, fraca e irritada.

Após dois meses, Insensata emagreceu o que pretendia. Está com o corpo com o qual sonhava mas não sente ânimo nenhum para se arrumar e nem vê propósito nisso, afinal, em um rompante de muita grosseria, terminou o noivado com o seu príncipe quando este quis saber o motivo de Insensata estar sempre desanimada e fugindo dos momentos mais íntimos com ele, que ambos tanto apreciavam. "Maldito egoísta!" - ela pensa. "Como posso pensar nesses assuntos quando me sinto tão cansada e sem vigor?!". Insensata transforma-se em um paradoxo: bela e atraente ao sexo oposto, porém, frígida como uma pedra.

Quando percebe o quanto essa droga danificou sua saúde e prejudicou sua vida, resolve largá-la. Tenta algumas vezes mas, o tremor nas mãos, a taquicardia e a desorientação a encomodam tanto, que percebe o quanto o processo será mais complicado do que desejava. Após meses de tentativas infrutíferas em largar o remédio, decide consultar um médico que lhe sugere um programa de desintoxicação, afinal, ficou dependente a ele.

História clichê ou não, a internet está cheia de "Insensatas" e muitas, nem atingiram a maioridade ainda. Algumas, devido ao abuso na auto-medicação, nem chegarão a comemorar a maioridade.

Agora resta a dúvida: é certo dizer que os medicamentos são o "caminho fácil" para quem quer emagrecer? Para mim, soa mais como um calvário em prol da aparência.

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